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OS VINHOS DA BEIRA INTERIOR- UMA SURPREENDENTE (RE)DESCOBERTA

OS VINHOS DA BEIRA INTERIOR- UMA SURPREENDENTE (RE)DESCOBERTA

Com uma história que remonta aos tempos Romanos, os vinhos produzidos na região vitivinícola da Beira Interior, até agora ainda pouco conhecidos no mercado nacional, têm vindo cada vez mais a ser descobertos e apreciados pelos consumidores. Com a qualidade que sempre guardou a saltar agora para a ribalta, qual gigante adormecido, os produtores presentes nesta região têm feito um trabalho louvável na domesticação e realce das caraterísticas únicas das castas autóctones aqui presentes, mas também de outras entretanto introduzidas. A região apresenta-nos assim vinhos cada vez mais extraordinários e com potencial de envelhecimento e longevidade únicos.

Interessado? Em baixo apresento alguns artigos presentes no site da Comissão Vitivinícola da Beira Interior que explicam bem o que nos podem proporcionar os diferentes vinhos desta região e porque os mesmos têm “ganho” cada vez mais apreciadores.

 

Vai certamente valer a pena a descoberta!

 

 

 

DOIS MIL ANOS DE TRADIÇÃO NA PRODUÇÃO DE VINHO

 

A Beira Interior é uma extensa região vitícola que confina, a norte, com o Douro, a sul com o Alentejo, a poente com o Dão e a nascente com a Sierra de Salamanca, onde hoje se produzem alguns dos mais desafiantes vinhos de Espanha. Rodeada de vizinhos tão distintos a conclusão só pode ser uma: o vinho da Beira Interior tem de ser bom, não obstante ser pouco conhecido dos portugueses.

 

A tradição vitícola da região remonta à época romana, como alguns dos seus tesouros arqueológicos comprovam. Após a pacificação do território os romanos instalaram-se, criaram grandes villae e dedicaram-se à agricultura, particularmente ao cultivo da vinha e fabrico do vinho. Há a ideia que essa atividade ocorreu essencialmente no Alentejo, onde ainda hoje se faz vinho em talhas de barro segundo o “processo romano”. Porém, a norte do Tejo os vestígios romanos associados ao vinho são raros e a tradição de produzir vinho em talhas, se é que existiu, esfumou-se há séculos, levando a pensar que o vinho poderia ter-se vulgarizado apenas no período medieval. Uma notável descoberta arqueológica, em pleno coração da Beira Interior, demonstra que também a norte do Tejo se produziu vinho romano em quantidade superior à necessária para o autoconsumo e, por certo, com qualidade reconhecida. O local do achado situa-se no concelho do Fundão, no sítio da Torre dos Namorados, Quintas da Torre, muito próximo da via romana que ligava a capital da Lusitânia, Emerita Augusta - a atual Mérida - a Bracara Augusta. Embora o local ainda não tenha sido detalhadamente estudado, as primeiras prospeções permitiram identificar estruturas tecnológicas para a produção de vinho, e provavelmente de azeite, de qualidade excecional. Uma cella vinaria e dois avantajados contrapesos cilíndricos, de grandes prensas de vara, permitem imaginar uma produção de vinho em grande volume para comercialização no exterior. Porém, a descoberta mais sensacional foi uma caixa construída em tijolo com fragmentos de tegulae [telhas], revestida a argamassa de argila, onde se encontraram milhares de grainhas carbonizadas e películas de uvas, cujo estudo, presentemente em curso, talvez permita desvendar os segredos das videiras romanas e avaliar o seu grau de parentesco com as castas atuais da Beira Interior. Porém, os achados não ficaram por aqui, pois foram exumadas peças notabilíssimas que estão hoje em exposição no Museu Arqueológico do Fundão, entre as quais uma talha romana intacta, revestida interiormente com pez, destinada à fermentação e armazenagem de vinho. O espólio recolhido aponta para uma ocupação entre a 1.ª metade do século I d.C. e o início do século V d.C.

Os poucos estudos arqueológicos mostram que é muito deficiente o conhecimento da presença romana na Beira Interior, mas há referências à existência de mais estruturas romanas para a produção de vinho noutros locais próximos da via romana já referida, como em Terlamonte (Covilhã), Quinta da Fórnea (Belmonte), Prado Galego (Pinhel) e Vale do Mouro (Mêda) permitindo pensar que a Beira Interior seria, há cerca de dois mil anos, uma região vocacionada para a produção, e exportação para fora da região, de vinho de qualidade.

 

 

VINHO MEDIEVAL

 

A queda do Império Romano, a invasão visigótica e, posteriormente, o domínio árabe, provocaram profundas alterações na sociedade e, naturalmente, em toda a estrutura produtiva, incluindo o vinho. De uma sociedade organizada e controlada de forma global, passou-se a uma sociedade mal estruturada e em constantes lutas de poder, onde cada aglomerado populacional tentava sobreviver como podia, a expensas próprias. Talvez seja excessivo afirmar que os vestígios arqueológicos das Quintas da Torre parecem confirmar a extinção da produção (industrial) de vinho no local, mas o certo é que os vestígios posteriores – como o lagar rupestre escavado na rocha da Freixa – apontam para uma produção de autossubsistência, recorrendo a incipientes lagares rupestres escavados na rocha e sistemas de prensagem muito mais arcaicos que os da época romana.

 

A Beira Interior, a exemplo do interior centro e norte do País, está cheia de lagaretas escavadas na rocha, que testemunham a continuidade da produção de vinho desde a época romana, embora num registo diferente. Está por fazer o inventário e estudo desses lagares, mas as várias centenas conhecidas atestam a vocação vitícola e o consumo de vinho desde tempos remotos. Uma recente publicação dá conta de 51 lagares rupestres só na envolvência da aldeia de Monsanto (Mons Sanctus) que evidenciam uma pulverização da propriedade rural, uma produção artesanal de vinho e, muito provavelmente, o abastecimento de vinho à vizinha e importante comunidade de Idanha-a-Velha.

Outra particularidade do vinho medieval assenta no envolvimento da Igreja e ordens religiosas, particularmente a partir do século XII, com vista a controlar a produção do “sangue de Cristo”. O Convento de Santa Maria de Aguiar, fundado por eremitas no século XII e depois integrado na Ordem de Cister teve, certamente, um papel importante nos destinos do vinho da região, pois os monges viticultores devem ter tido um papel decisivo na escolha das castas, visto algumas delas terem ascendência de castas antigas francesas, como o Marufo e Folgosão.

 

 

UM ENCEPAMENTO ORIGINALÍSSIMO

 

Numa região tão extensa como a da Beira Interior é natural que as castas predominantes das várias sub-regiões sejam diferentes e reflitam as dinâmicas criadas com as regiões vitícolas vizinhas. Assim, na zona norte sente-se a influência do Douro, Trás-os-Montes e Galiza, na zona sul deteta-se a influência do Alentejo, a poente reconhece-se a influência do Dão, a sudoeste o efeito do Ribatejo e a nascente a presença da Sierra de Salamanca, onde a casta Rufete ainda hoje é a mais importante. No entanto, muitas dessas diferenças são apenas nos nomes das castas.

As tendências atuais têm levado alguns produtores a valorizar a diferença e as raízes históricas, começando a dar prioridade às castas do passado e mais identitárias, que são, nas brancas, Síria, Fonte Cal, Folgosão e Calum e, nas tintas, Rufete, Marufo, Bastardo, Touriga e Trincadeira.

 

 

VINHOS ORIGINAIS E MUITO ELEGANTES

 

São múltiplos os fatores que determinam o estilo dos vinhos. O clima, solo e castas são considerados dos mais importantes, pois são a base em que assenta a criação das denominações de origem. No entanto, a sabedoria dos produtores e a tecnologia são, desde sempre, absolutamente determinantes. Assim, quando se evocam os vinhos do passado é fundamental distinguir entre vinho popular e senhorial, de características muito distintas. O primeiro sempre terá sido, desde a democratização do consumo de vinho no final do Império Romano até ao século XIX, um clarete de mistura com pouca graduação alcoólica e frequentes defeitos de prova, fruto da incipiência técnica com que era feito. Já o vinho senhorial ou o eclesial eram completamente distintos, pois eram feitos com a sabedoria dos frades, a melhor tecnologia da época e as melhores castas plantadas em locais privilegiados. Terá sido este o vinho que deu fama às várias regiões vitícolas e naturalmente à Beira Interior.

O estilo do vinho senhorial terá assumido grande relevância a partir do século XIX, quando se generalizou o uso das garrafas de vidro e foi possível envelhecê-lo nas frias caves dos solares beirões. O vinho branco não seria frutado como é hoje, pois recorria-se a uma enologia levemente oxidativa que valorizava muito mais o sabor do que o odor. Quando tinha 12 graus e elevada acidez, própria das terras altas do interior, envelhecia sumptuosamente em garrafa e tinha grande longevidade, sendo o favorito das mesas aristocráticas. Já o vinho tinto, tendo por base as castas Rufete, Marufo, Mortágua (Touriga) e Bastardo, não seria muito carregado de cor, mas também envelhecia bem, perdendo a adstringência própria da juventude, ganhando o aveludado tão característico e desenvolvendo uma enorme complexidade aromática que se refinava e mantinha durante décadas.

Presentemente, o estilo dos vinhos sofisticou-se e acompanhou a onda de modernidade que se vive no setor em todo o País. Há brancos muito aromáticos, frescos, com grande sentido gastronómico que exaltam as características das principais castas da região - Síria e Fonte Cal - e começa a haver brancos de guarda, que evoluem maravilhosamente em garrafa e evocam os dos antigos solares beirões. Nos tintos, há vinhos de estilo moderno, carregados de cor, bastante alcoólicos e cheios de aromas primários, muitos deles feitos com a ajuda de castas internacionais, mas também há vinhos das castas autóctones - principalmente Rufete, Marufo, Touriga, Trincadeira e Bastardo - com menos cor e cheios de originalidade, tanto para beber jovens como para envelhecer longamente em garrafa. E isso só é possível graças ao clima da Beira Interior, às baixas produções por hectare e ao cuidado colocado na sua elaboração.

 

 

FONTE CAL E RUFETE, TESOUROS DA BEIRA INTERIOR

 

São tantas e tão originais as castas antigas da Beira Interior, que não é fácil eleger uma branca e uma tinta para representar a identidade da região. Optámos, assim, por uma casta branca que (ainda) não existe em mais nenhuma região vitícola do País - a Fonte Cal - e uma casta tinta, muito antiga em toda a região, mas também muito acariciada do lado de lá da fronteira - o Rufete.

 

 

FONTE CAL

 

O nome antigo e talvez o original desta casta é Fonte da Cal, já assim chamada, em 1790. Tudo aponta para que seja originária da região de Pinhel, onde é referenciada desde o século XVIII. Testemunha um exemplar esforço coletivo para evitar a sua extinção. Tudo começou na vinha do Instituto Nacional de Investigação Agrária plantada em 1984, na quinta de Lamaçais, graças ao entusiasmo do Eng. Raul dos Santos e ao trabalho de campo dos engenheiros Adalberto Desterro e Alberto Antunes, técnicos de Pinhel onde a casta “resistia”. As vinificações experimentais não resultaram, mas o Eng. Francisco Santos, que acompanhou o ensaio na vinha, reconheceu-lhe méritos vitícolas, nomeadamente a sua resistência aos stresses hídrico e térmico e aos terrenos pobres da região. Distribui algumas plantas por pequenos vinhateiros da Cova da Beira, nas freguesias de Ferro e Caria, mas o seu futuro só ficou garantido quando foi plantada na quinta dos Termos, em 1997. Em 2003 foi, finalmente, vinificada estreme nesta quinta para pôr à prova os seus atributos enológicos e foi um rotundo sucesso. O vinho mostrou-se magnífico, com aroma delicado, intenso, original e atraente e com uma prova de boca surpreendente, que primava pela qualidade da acidez, grande estrutura de boca e equilíbrio. Ainda hoje esse vinho é admirável, confirmando a aptidão da casta para vencer a prova do tempo. Em 2006, com a colaboração do Professor Antero Martins, da Universidade de Lisboa, plantou-se um campo de clones na Quinta dos Termos, pois era preciso “salvar” a casta. Desde então a casta passou a ser acarinhada por vários produtores da região e a produzir vinhos cheios de originalidade. Hoje é uma bandeira e um precioso tesouro vitícola, que marca de forma indelével o perfume dos grandes brancos da Beira Interior.

 

RUFETE

 

Na Beira Interior é conhecida por “pai dos pobres” e basta olhar para o tamanho de um cacho e para uma cepa carregada para logo se entender a alcunha. Há meio século, numa época em que a quantidade era a palavra de ordem, justificava plenamente o epíteto e a preferência dos produtores, pois além de chegar com facilidade aos 5 kg/cepa, produz bem todos os anos, ou, como se diz no mundo rural, não é aneira. Embora seja uma casta que se identifica com a Beira Interior, também existe do outro lado da Serra da Estrela, no Dão, onde é mais conhecida por Tinta Pinheira, e como não reconhece a fronteira nem as guerras que durante séculos travaram castelhanos e portugueses, também é cultivada na província de Salamanca, na Sierra de Francia, onde há mais de vinte anos é um símbolo da identidade regional. Embora os espanhóis admitam que a casta possa ter origem na Beira Interior, cultiva-se em toda a zona serrana, sendo provável que seja uma herança dos frades dos dois lados da fronteira, que mantinham um intercâmbio frequente e uma forte influência na viticultura e produção de vinho, cobrando religiosamente a “dízima de Deus”, os foros e as rendas.

Até há cinco anos era pouco estimada na Beira Interior, sendo acusada de originar vinhos com pouca cor, delgados, muito ácidos, fracos de grau e sem capacidade de envelhecimento, não merecendo as preferências dos produtores que pretendiam renovar as suas vinhas. Porém, tudo mudou nos últimos anos, quando alguns produtores credenciados de Pinhel e da Cova da Beira decidiram entender os seus caprichos e começaram a cultivá-la carinhosamente e a vinificá-la com cuidado. Como qualquer grande casta é difícil e um desafio constante para os enólogos. Tem grande heterogeneidade clonal, havendo videiras com cachos grandes e bagos gordos e outras com cachos pequenos e bagos miúdos, cujo comportamento enológico é muito desigual. As últimas costumam dar sempre mais grau e vinhos mais corados, concentrados e aromáticos. Também não pode produzir muito, pois quanto maior a produção menor a qualidade dos vinhos. Em bons anos de colheita, quando a maturação é completa, origina vinhos excecionais, de bonita cor rubi, aroma rico, de caráter facilmente reconhecível e elegantíssimos na boca, onde impera uma acidez sedutora, irreverente adstringência e marcante flavor aromático. Não são vinhos muito longevos, que brilham mais enquanto perdura a juventude, mas que podem ganhar complexidade com alguns anos de garrafa. Felizmente, a casta começa a ser descoberta pelos produtores e consumidores, dada a sua enorme originalidade.

 

TEXTOS DA AUTORIA DE VIRGÍLIO LOUREIRO In CVR Beira Interior

 

 

 

 

OS VINHOS DA MONTANHA

 

Altitude para que serve? Para o apreciador de vinhos, a altitude é talvez a característica que mais facilmente define a Beira Interior. Mas esta região é muito mais do que os seus planaltos e montanhas: da diversidade das sub-regiões à singularidade das castas de uva locais, passando pelo fantástico património das vinhas velhas e pela preservação ambiental, a Beira Interior é todo um reservatório de autenticidade vitivinícola, onde qualidade e diferença andam sempre de mãos dadas.

 

 

OS VINHOS DA BEIRA INTERIOR SÃO, NÃO HÁ DÚVIDA FORTEMENTE INFLUENCIADOS PELA ALTITUDE

 

Rodeada de serras (Estrela, Gardunha, Malcata e Marofa serão as principais), as vinhas estão normalmente plantadas em zonas planálticas ou de encosta, entre os 350 e os 750 metros de altitude, tornando esta região vitivinícola na mais alta de Portugal.

 

Mas que interferência tem esse fator na qualidade e perfil dos vinhos? Numa explicação simples, com a altitude, a atmosfera torna-se menos densa e a pressão atmosférica baixa, pelo que a retenção do calor dos raios solares é menos eficaz. Isso significa que, por cada 100 metros que subimos acima do nível do mar, a temperatura desce cerca de 0,65ºC. Colocado de forma prática, numa mesma área e no mesmo dia e hora, podemos ter 35ºC ao nível do mar e pouco mais de 30ºC a 750 metros de altitude.

 

Num clima continental, caracterizado por invernos frios e rigorosos e verões quentes e secos, a altitude pode fazer toda a diferença na fase mais crítica de amadurecimento das uvas (meses de julho, agosto) amenizando os choques de calor. Por outro lado, a menor densidade atmosférica favorece a amplitude térmica entre o dia e a noite: noites frescas no verão é algo que os produtores de vinho adoram, pois permitem uma maturação menos apressada e mais equilibrada das uvas, conservando estas a sua acidez natural e outros compostos importantes.

 

Portanto, e de forma muito simplista, altitude significa, sobretudo, acidez e frescura, um bem raro e precioso nas regiões de vinho mais afastadas do litoral.

 

 

PINHEL, CASTELO RODRIGO E COVA DA BEIRA

TRÊS SUB-REGIÕES

 

A Beira Interior está longe de ser toda igual e precisamente por isso a Denominação de Origem Controlada (DOC) está dividida em três sub-regiões: Pinhel, Castelo Rodrigo e Cova da Beira. A sub-região de Pinhel começa a norte da cidade da Guarda, em Celorico da Beira, e vai até Mêda e à serra da Marofa a norte, e Trancoso a oeste, contando com uma altitude média de 650 m.

 

Já a sub-região do Castelo Rodrigo é contígua à de Pinhel, separada desta pelo rio Côa, estendendo-se para o interior até à fronteira com Espanha. O limite norte vai sensivelmente até Figueira de Castelo Rodrigo, com Almeida a delimitá-la a sul. É uma região planáltica, de elevada altitude, entre os 600 e 750 metros. Pinhel e Castelo Rodrigo têm um clima seco, com precipitação anual relativamente baixa e grandes amplitudes térmicas anuais, sendo frequente a queda de neve nas vinhas durante o inverno.

 

A Cova da Beira é a maior das três sub-regiões e aquela que está mais a sul. O seu limite norte é marcado pelas serras da Estrela e Malcata e estende-se para sul até ao rio Tejo e Vila Velha de Rodão, passando por Castelo Branco. Aqui, a altitude é mais moderada e o clima não tão extremado e continental, tendo já alguma influência mediterrânea. Globalmente, a precipitação é também um pouco mais elevada do que nas sub-regiões de Pinhel e Castelo Rodrigo. E a conjugação de todos destes fatores leva a diferenças sensíveis na maturação face às duas sub-regiões mais a norte, ocorrendo muitas vezes a vindima algumas semanas mais cedo.

 

 

ALTITUDE, RELEVO, HUMIDADE, TEMPERATURA

DIFERENTES TERROIRS

 

Diferenças de altitude, relevo, humidade, temperatura, conduzem a diferentes terroirs nos cerca de 16.000ha de vinha da região. Para essa diversidade contribui também o perfil do solo na Beira Interior, que não é homogéneo.

 

Embora na sua grande maioria tenha uma base granítica, esse granito apresenta diferenças sensíveis, com várias zonas arenosas. Encontram-se igualmente áreas de xisto e filões de quartzo que, geralmente, são solos pouco férteis e pedregosos, o que acaba por controlar de forma natural o vigor e a produtividade das videiras. Por outro lado, a interioridade e, de alguma forma, a menor presença nos principais circuitos de distribuição de vinho, permitiu à Beira Interior conservar grande parte do seu património genético vitícola, patente nas muitas parcelas de vinha velha existentes na região.

 

Estas vinhas mais antigas, plantadas com diversas castas misturadas, mantêm as variedades mais tradicionais da região, que se foram adaptando às condições particulares daquele clima e solo ao longo de centenas de anos e originam vinhos de grande complexidade e forte sentido de identidade. Do mesmo modo, o clima seco e agreste não favorece as doenças da videira, pelo que a grande maioria das vinhas, antigas e recentes, são trabalhadas ou em modo de produção integrada ou em orgânico/biológico, contribuindo assim para a preservação e sustentabilidade ambiental.

 

 

3 TIPOS DE CASTAS

UVAS E VINHOS

 

As castas utilizadas para produzir os vinhos da Beira Interior podem ser divididas em três tipos, consoante a sua origem: castas locais identitárias, ou seja, aquelas que estão há muito tempo na região e que, de alguma forma, a caracterizam junto do consumidor; castas nacionais, geralmente variedades nobres originárias de regiões limítrofes e que, nos últimos vinte anos, vieram elevar a qualidade média dos vinhos regionais; e castas internacionais, cuja incontornável qualidade e notoriedade ajudam muitas vezes a colocar os vinhos nos mercados de exportação.

 

Ao nível de castas identitárias cumpre destacar as brancas Síria e Fonte Cal e a tinta Rufete. A Síria, será porventura a variedade que mais apreciadores relacionam com a Beira Interior. Conhecida no Alentejo como Roupeiro, evidencia nestas terras altas beirãs um desempenho qualitativo sem igual noutra região de Portugal, com uma pureza e exuberância aromática e uma frescura de boca inimitáveis. Mas mais identitária até talvez seja a Fonte Cal, uma uva local praticamente inexistente fora da Beira Interior, e que cada vez mais produtores elegem como primeira escolha, graças à estrutura, cremosidade e elegância dos vinhos que origina. Embora possa ter tendência para perder acidez, nas zonas mais altas e, sobretudo, quando colhida atempadamente, essa desvantagem é facilmente ultrapassada. Outras uvas brancas clássicas muito presentes na região são Fernão Pires, Malvasia Fina ou Arinto.

 

Já a tinta Rufete (chamada Tinta Pinheira no Dão), dominante nas vinhas mais velhas, volta a chamar sobre si as atenções depois de longos anos desprezada devido à débil cor dos seus vinhos. Tem tendência a produzir demasiado, mas quando bem tratada, plantada em solos pouco férteis e controlada a sua produção, origina tintos de enorme delicadeza, com fruta muito elegante, aromas terrosos e taninos suaves e polidos. Nas vinhas tradicionais encontramos igualmente, entre outras, Trincadeira, Jaen ou Marufo.

 

Nas últimas duas décadas, as vinhas modernas da Beira Interior acolheram diversas outras castas nacionais e internacionais, como a Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Chardonnay, Riesling, Syrah, Merlot ou Cabernet Sauvignon. Entre todas, para além da incontornável e tão adaptável Touriga Nacional, cumpre destacar o notável desempenho da Tinta Roriz/Aragonez, que na Beira Interior encontrou um terroir feito à sua medida. Nas zonas altas e arejadas, mostra um comportamento de excelência, amadurecendo sem tanta pressa, originando vinhos poderosos mas com taninos domados, finos e persistentes.

 

Seja qual for a casta ou castas utilizadas, as variedades de uva fazem parte de um terroir, onde solo, clima e gentes se moldam e conjugam para criar uma identidade. Esse todo é maior do que a soma das partes e os vinhos da Beira Interior são o reflexo disso mesmo. Vinhos dos altos, brancos, rosés e tintos firmes, sérios, elegantes, longevos, com todo o carácter da terra que os viu nascer.

 

TEXTOS DA AUTORIA DE LUÍS LOPES In CVR Beira Interior

 

 

 

 

 

Como afirma Carina Fonseca no seu artigo em evasoes.pt “O enclave raiano que define naturalmente a região vinícola da Beira Interior é território de muitos prodígios. Vinhos salinos, frescura a toda a prova e a longevidade com que todo o Portugal sonha. Está agora ao rubro a qualidade que sempre guardou. Como um gigante que desperta.

O património vinícola português tem na sua base três grandes influências: atlântica, de óbvia declinação em proximidade ribeirinha e que inclui as ilhas; Norte de África, que facilmente reconhecemos nas argilas de vermelho incandescente do Algarve e Alentejo, outrora região do Al-Andaluz; e continental, marcada pelos maciços graníticos de altitude e que incluem o Dão e Trás-os-Montes. Nesta última influência, juntinho à raia beirã que trepa da latitude logo a norte de Castelo Branco até aos cocurutos de Pinhel, está o que há muito clama pelo devido reconhecimento. Falo da candidata a melhor região do mundo para vinhos brancos, a Beira Interior. Se há dias que a esta região interior altaneira chega o cheiro a maresia, há alguns em quase ouvimos as gaivotas na ronda do pescado sobrante. Há vinha velha, muito velha – 80 anos e mais -, há uma expressão de touriga nacional que parte alguma de Portugal atinge na frescura, e sobretudo há futuro, muito futuro.”

Escrito por Carina Fonseca In Evasoes.pt em 19/02/2019

 

 

 

 

 

A BEIRA INTERIOR NA AARÃO RIBEIRO VINHOS

 

Na Aarão Ribeiro vinhos, tendo percebido o excelente potencial dos vinhos nesta região, decidimos há mais de duas dezenas de anos apostar num dos principais produtores aqui presentes- a Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo, que nos tem proporcionado vinhos excelentes e fiáveis ao longo dos anos. A especificidade e excelência dos vinhos desta região revelam-se a cada prova uma agradabilíssima surpresa para os clientes que decidem aceitar as nossas sugestões. Tal como pôde ler nos artigos publicados acima, as características das diferentes castas presentes na região e o seu terroir único, revelam-nos vinhos com um comportamento de excelência, quando apreciados jovens, mas demonstram também uma longevidade e uma frescura única, presentes só nos melhores dos melhores.

 

Ficou curioso, tentado a experimentar e comprovar algumas das características especiais dos vinhos da Beira Interior?

Na Aarão Ribeiro vinhos teremos todo o prazer em proporcionar-lhe algumas dessas pérolas produzidas em Figueira de Castelo Rodrigo entre as quais o Convento D’Aguiar Reserva ou o Castelo Rodrigo DOC. Para mais informações poderá aceder à nossa página aaraoribeirovinhos.pt.


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